sábado, 14 de novembro de 2020
Fernando Keiber abre a gaveta e
deixa escapar uma obra inédita, íntima, autobiográfica.
Apaixonado pela fotografia, seu
hobby de todas as horas, experimenta fotos e delas nasce a inspiração para a
produção de novos poemas.
Eis o livro FOTO SÍNTESE.
Assim como na fotossíntese vegetal,
quer o autor produzir alimento (energia química) através da energia solar (foto),
transformando a experiência visual (luz e cor) em emoção (alimento para a alma).
Este
projeto foi possível graças ao financiamento da Sedac (Secretaria de Estado da
Cultura) através do Fundo de Apoio à Cultura (FAC Digital) e apoio da FEEVALE.
RENOVO
Não me dê por vencido
Nem me veja pela superfície
Há algo sempre revolto,
Pronto para emergir,
Dentro de mim
Quando o lenho que me cobre
Torna-se apenas um suporte
Para o novo que está sempre
E sempre e eternamente
Prestes a surgir
Não me dê por acabado
Extinto ou findo, enfim.
Que nessa aparência de pedra
Dentro medra o melhor de mim
IMPERMANÊNCIA
Somos o que jogamos fora
Quando não cabe mais dentro
Todo lixo que acumulamos
Por isso nos arrastamos
E esse peso é nosso tormento
Diáspora desoladora...
Como só existe o agora
Paremos neste momento
Pra revisar o que juntamos
Seremos o que deixarmos
Pelo caminho, e o plano
É podermos levar embora
Somente o que precisamos
Ou seja, apenas nós mesmos.
ESPERA
Sem você não é solidão. É espera...
Sem você não é tristeza. É esperança.
Sem você - fico puxando da lembrança -
Como voar tão longe...
Sua falta não me mata. Me fortalece.
Quem me vê em voo solitário, sabe,
Não há dor, nem é tormento,
Estou em deslocamento,
Voando para te encontrar...
Quem me vê só nem acredita
Que estou contemplando a sorte
De ter em minha vida -
Um momento íntimo comigo e com Deus!
Quem me vê só
Já sabe que eu sou só teu.
FLORES
Comece descobrindo as flores,
Seus aromas, texturas, suas cores.
Toque com leveza, inspire com profundidade.
Abusa da delicadeza, embarque na cumplicidade...
Assim será, meu filho amado, com os teus futuros amores.
Esqueça os louros, não há virtude em ser amável,
É condição de existir.
Esqueça os pecados, não há mal em estarmos errados,
(Mas não devemos reincidir).
Apenas tenha como arma a verdade,
Só a sinceridade consigo mesmo é inquestionável.
De resto, pólen ao vento...
Flanar pelo mundo, leve e solto,
Dando rédeas ao amor e ao sentimento,
Levando paz e bem ao coração dos outros.
NOME NA AREIA 3
Meu amor se renova a cada dia, é uma fortaleza erguida no
éter, está sempre em pé.
Ele fica, enquanto tudo passa.
Não é feito da mesma matéria destas coisas que nos
circundam.
Não é visível a olho nu, e carece que a alma se desprenda de
tudo que foi juntado pelo caminho,
Pois é no silêncio absoluto, onde dormem todas as sinfonias
inacabadas, que meu amor se encontra por inteiro.
Sempre esteve lá, desde aquele beijo primeiro que o fez despertar.
NOME NA AREIA 1
Sabe aquela história de escrever teu nome na areia e vir a
onda lambê-lo?
Sobre a impermanência das coisas todas e de quanto tudo o
tempo todo muda?
Sabe como se desgasta esta engrenagem e o cotidiano insiste
em criar camadas de zinabre?
Quanto arrefece o fogo nas noites úmidas dos invernos
rigorosos...?
Isso não existe contigo.
FILHO
Um filho é o clarão que nos seduz
Um flash, nossa foto, cópia...
Mais que extensão da própria carne
Extensão da mesma luz.
E gente foi feita pra brilhar
Explodir em cores, irradiar
"Lo que brilla con luz propia
Nadie lo puede apagar".
Ilusão de ótica, de semiótica,
Gérmen, gen, além,
Um filho é a razão de se enxergar.
PRA QUÊ?
Não temais a escuridão que se avizinha
A morte não legitima o belo ocaso
Mesmo que a estrela tente, brilha sozinha,
E não vence o breu de que é formado o espaço...
E aquele sapo que de coachar definha
Deixará, na morte, o silêncio como rastro.
Mas é dali, onde nada se ouve, nada se vê,
Que as coisas ousam e insistem em nascer...
Pra quê?
PA TI
Que a vida flua - linha melódica
Contornando as margens da poesia...
A sua presença é necessária e lógica
Sem você não existe harmonia.
Toma de presente a lua,
Só posso oferecer algo impossível
Que outro presente absurdo
Lhe daria se você é magia
A oitava maravilha do meu mundo
O sol que ilumina os meus dias
Minha estrela e minha guia.
BOLHA 2
Não há bolha que aprisiona mais.
Odeio as convenções sociais.
........
Mas sem elas estaríamos sozinhos
Sem a Páscoa e seus coelhinhos.
Uma vida vivida ao léu,
Sem Noel nem pinheirinho,
Sem as luzes piscantes
Sem contagens regressivas
Pra enterrar anos distantes.
Seria, o calendário, errante,
Sem datas comemorativas,
Sem festejos, nem variantes,
Um ermo eterno, morte em vida,
Os dias todos iguais.
Viva o amor, as confraternizações,
Adoro as convenções sociais.