quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

GRÃO POEMA


Não queira ver imensamente as coisas, meu bem,
Seja paciente e perseverante,
Sinta o universo em ação,
E vibra nesta duração que tem
O tempo de quebrar a semente.
E retira-te para dentro de si, infimamente,
Que no teu íntimo
Onde tudo parece ser tão pequenino,
É que começa a magia da transformação,
Que antes fora um grão este teu caro menino.

Não queira abocanhar o mundo, na tua gula de viver,
Gota é grão que sai do bico, da boca, do beija-flor,
Corisco é grão, e quando há um incêndio a vencer,
Que chova estes grãos, deságuem, que desçam as lágrimas às pencas,
Que antes era pólen este bem-me-quer,
Agora são cores, sempre-vivas.

Não queira apreender em teus olhos tanta luz e cor,
Descansa da imagem que na tua retina ficou,
Fecha os olhos, fecha as janelas, liberta a alma,
Não cabe nesta foto tanta paisagem, tantas caras, tanto sol.
Deixe tudo começar pelo ponto de cor,
Pela ponta da pena, um ponto por vez até ter tela cheia,
Faça um mosaico de grãos de areia, uma mandala
E veja que belo é o nascimento dos signos
Que no início fora somente um pixel este teu desígnio.

Pára de correr, minha bela, em vão...
De atravessar continentes, eufórica e afoita,
Parece grande esta esfera, esta nossa nave terra,
E não - é somente um grão.
Pára de correr, senta-te ao meu lado e ouve,
Seca o sal do teu suor, o cristal das tuas lágrimas,
Sinta a suave textura do grão da minhas palavras,
O que antes era nota em fusa,
Dispersa no vão das pausas,
Agora são árias, sinfonias, minuetos e cantatas!

Acredite, meu amor, confia em mim.
Serei paciente e perseverante do sorrir ao bocejar do dia,
Sem temor, sem tremor, sem temer, só teimar!
Podem me partir, quebrarem-me sempre e sempre e mais,
Que não há medida nem término essa fissão,
Façam da metade a metade dos mícrons meus,
E eu jamais acabaria, estaria sempre aqui,
Quebrem minhas moléculas, mais e mais, então,
E eis que terão uma explosão nuclear.
Como estrela nova a nascer,
Feito universo em expansão,
Sou este amor que não cabe mais num grão.

NK 15/01/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Grãos somos nós,afoitos por respostas que muitas vezes não compreendemos. Te amo mesmo assim!